Educação financeira, as bets e o mercado financeiro

A ascensão das apostas esportivas no Brasil tem sido tratada como um fenômeno recente, impulsionado pelas plataformas digitais, pela publicidade massiva no futebol e pela falta de educação financeira. Mas, quando observada mais de perto, essa tendência revela algo mais profundo e mais estrutural: a transformação de nossa economia em um sistema voltado não para o desenvolvimento, mas para o jogo e para a busca do ganho imediato.

O que parece ser apenas um novo hábito, às vezes não muito consciente, diz mais a respeito da forma como passamos a conceber o futuro e a própria possibilidade de saúde financeira. Em particular, em função das possibilidades geradas pelo funcionamento do mercado financeiro no Brasil.

[…]

No entanto, o impacto de toda essa engenhosidade sobre o desenvolvimento econômico tem sido limitado. A maior parte da intermediação financeira continua orientada para operações de curtíssimo prazo, movimentos especulativos e arbitragem de expectativas. O crédito de longo prazo, necessário para ampliar capacidade produtiva, diversificar a estrutura industrial e fomentar inovação, permanece restrito.

Em outras palavras, o sistema financeiro brasileiro oferece inúmeras formas de “apostar no futuro”: na curva de juros, no câmbio, no humor do mercado externo, no próximo comunicado do Banco Central. O horizonte é sempre imediato e a lógica dominante é aproveitar oscilações, não construir trajetórias. Criamos um sistema que funciona de maneira eficiente para movimentar riqueza dentro dele, mas que pouco transborda para a economia real.

[…]

É nesse contexto que as bets esportivas ganham sentido. Elas são a democratização da lógica especulativa. Se o mercado financeiro oferece apostas complexas para iniciados, as plataformas esportivas oferecem apostas simples para qualquer pessoa com um celular. Ambas partem da mesma premissa: a ideia de que conhecimento, técnica ou leitura correta do momento podem transformar incerteza em ganho. A diferença está apenas no objeto da aposta: a taxa de juros ou o número de escanteios.

Mas não devemos ser fatalistas. Como demonstro em meu artigo “What do we know about the relationship between banks and income inequality? Empirical evidence for emerging and low-income countries”, sistemas financeiros podem operar sob duas lógicas distintas. Em uma, reforçam desigualdades, concentrando o crédito e as oportunidades naqueles que já possuem recursos e capacidade de risco. Na outra, tornam-se instrumentos de cooperação social, financiando inclusão produtiva, investimento de longo prazo e mobilidade social.

[…]

O Brasil, hoje, está diante de uma escolha clara. Pode aprofundar sua vocação recente como país de apostas ou pode reconstruir uma economia orientada ao investimento e à educação, principalmente levando-se em conta seu potencial de impacto global na questão climática.

A diferença entre esses dois caminhos é uma escolha e não uma aposta.

Acesse o artigo na íntegra clicando aqui.

Veja todas as nossas outras notícias clicando aqui.

Rolar para cima
Scroll to Top