O valor da criatividade na era da Inteligência Artificial

Artigo:  Profª Paula Chimenti e Prof. André Fonseca

Há algo de paradoxal na forma como a inteligência artificial tem avançado: quanto mais ela cria, mais nos obriga a pensar sobre o que significa criar. Quando uma máquina escreve textos, compõe músicas ou gera imagens que antes demandavam horas de esforço humano, a pergunta deixa de ser o que a IA pode fazer — e passa a ser o que ainda faz sentido que nós façamos.

O ritmo da inovação tem nos empurrado para uma espécie de “automação da imaginação”. Ferramentas como ChatGPT, Midjourney ou Suno prometem democratizar o acesso à criação, permitindo que qualquer pessoa escreva, desenhe ou componha. É tentador ver nisso o fim do esforço criativo: basta descrever o que se quer, apertar um botão e pronto. Mas será que dá para transformar a IA em algo que elimina o desconforto, a dúvida, o tempo e o erro, que são partes essenciais do processo criativo?

Recentemente, perguntamos a um grupo de alunos universitários se preferiam usar a IA para ter uma ideia ou para refinar uma ideia que eles próprios tivessem tido. As respostas se dividiram, mas a maioria admitiu preferir que a IA tivesse a ideia inicial. Muitos mencionaram o “medo da página em branco” — aquele momento em que o vazio criativo paralisa. Para eles, a IA funciona como uma forma de vencer a inércia, de começar algo que sozinhos talvez não conseguissem. É uma reflexão interessante sobre como a tecnologia se torna uma muleta emocional tanto quanto cognitiva.

Comentamos esse resultado com uma jovem que trabalha com arte e ela respondeu sem hesitar: “No meu mundo é o contrário.” Em campos criativos, onde as pessoas são preparadas para criar e perceber valor na originalidade, existe a crença de que a criação é um ato quase mágico, uma expressão da alma. Nesses contextos, o orgulho está em dizer “essa ideia é minha”, mesmo que o processo tenha sido longo, incerto e doloroso. Ou talvez até por isso.

(…)

Para concluir, é importante dizer que a maior parte das inúmeras discussões que temos no nosso grupo de pesquisa termina com a percepção de que, do mesmo jeito que é usual atribuirmos um valor maior a um objeto de decoração que foi feito a mão por um determinado mestre artesão que mora em uma cidade distante, o processo que leva a produção de uma ideia original seguirá importando no valor que atribuiremos a ela. Parece difícil dizer o quanto isso se dará, mas é possível que uma empresa da economia criativa do futuro incorpore no seu slogan a expressão “somente insights humanos” para justificar seu preço mais elevado. Se os clientes aceitarão tal posicionamento como razão para pagar mais caro é o que nos parece chave para discutir o quanto do A, da IA, queremos nas nossas vidas.  

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